18/11/2025 strategic-culture.su  6min 🇸🇹 #296643

A carnificina nos Bálcãs foi apoiada pela humanitária «comunidade internacional»

Eduardo Vasco

Os anos 90 foram o auge da globalização e da propaganda hipócrita do imperialismo em torno da "comunidade internacional", uma espécie de entidade sobrenatural homogênea que atua para o bem das pessoas do mundo todo.

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Os anos 90 foram o auge da globalização e da propaganda hipócrita do imperialismo em torno da "comunidade internacional", uma espécie de entidade sobrenatural homogênea que atua para o bem das pessoas do mundo todo. Até hoje os jornais noticiam os feitos dessa "comunidade internacional". Artigos do tipo "Comunidade internacional condena ataques terroristas do Hamas" ou "Comunidade internacional não reconhece eleições na Venezuela" são comuns. Essa "comunidade internacional" não é nada mais nada menos que os vampiros que sugam o sangue da raça humana - e seus vassalos, para aparentar uma grande quantidade de nações.

Enquanto toda a carnificina ocorria nos Bálcãs, a "comunidade internacional", garantidora da paz e dos direitos humanos no mundo, não fez nada para evitar os conflitos. Só depois de mortes incontáveis de civis sérvios, croatas e eslovenos é que a "comunidade internacional" mediou o encerramento das primeiras guerras. A Força de Proteção das Nações Unidas (UNPROFOR), criada em 1992 pelo Conselho de Segurança, resolveu enviar 14 mil homens para Sarajevo, antes da guerra que teve nessa cidade os seus piores momentos.

Seguindo o exemplo da Eslovênia e da Croácia, a Bósnia (que tinha 4,3 milhões de habitantes, dos quais 44% eram muçulmanos, 31% sérvios e 17% croatas) foi a próxima a se separar da Iugoslávia pela luta armada. Sua independência foi aprovada em plebiscito por croatas e muçulmanos em 29 de fevereiro e 1º de março de 1992, mas os sérvios da Bósnia boicotaram as duas votações e criaram sua própria república, na região leste de Sarajevo.

Eles foram apoiados pelas forças militares iugoslavas, e começaram a atacar a partir das montanhas, no mesmo dia em que a Comunidade Europeia reconheceu a Bósnia como país independente. Nos dias anteriores, já haviam ocorrido confrontos violentos entre bósnios e servo-bósnios. Inclusive a população civil bósnia havia ido às ruas se manifestar pela queda do governo e a união da Iugoslávia novamente socialista.

Começava assim o cerco de Sarajevo, que durou quase quatro anos: de 5 de abril de 1992 a 29 de fevereiro de 1996. Estima-se que o número de vítimas fatais do cerco tenha chegado a mais de 14 mil, metade, pelo menos, civis, das quais 1.500 crianças.

Após pouco tempo de união entre croatas-bósnios e muçulmanos, eles passaram a ser inimigos (com o apoio militar de Zagreb para os croatas-bósnios), assim como milícias muçulmanas passaram a atuar contra o próprio governo bósnio, muçulmano. Os servo-bósnios, por meio das milícias ultranacionalistas, também começaram a enviar os muçulmanos para campos de prisioneiros e centros de estupros coletivos. A imprensa divulgava fotografias comparando os prisioneiros com os judeus nos campos de concentração nazistas. No entanto, os servo-bósnios não foram os únicos a cometer tais barbaridades: os croatas-bósnios também mantinham muçulmanos em campos de concentração.

Um dos campos de extermínio mantidos pelos servo-bósnios foi o de Omarska, no município de Prijedor, cujo destino da maioria dos 5.400 croatas bósnios e muçulmanos mortos ou desaparecidos nessa cidade foi decidido ali. Em Srebrenica, um enclave muçulmano localizado dentro da República Srpska (região de maioria sérvia que decretou independência da Bósnia), 8 mil bósnios muçulmanos do sexo masculino foram assassinados.

Mas os muçulmanos também praticaram massacres e limpezas étnicas, em Vitez e na Herzegovina, além de destruição de propriedades e igrejas de sérvios e croatas.

Os croatas, por outro lado, mesmo depois de terminada oficialmente a guerra dentro da Croácia, continuaram combatendo os sérvios que resistiam na Krajina. O exército croata contou com a ajuda do governo dos Estados Unidos para reconquistar a região em maio de 1995 e realizar a maior limpeza étnica da guerra: 150 mil sérvios étnicos foram obrigados a se deslocar para a Sérvia. Essa operação fez parte dos esforços dos EUA para reconciliar croatas e bósnios, que contou também com o cessar-fogo bilateral e a formação, em março de 1994, da Federação da Bósnia e Herzegovina, entidade que reúne bósnios e croatas dentro do Estado bósnio até os dias atuais.

A intervenção dos EUA e da "comunidade internacional" já vinha sendo realizada aos poucos durante a Guerra da Bósnia, sobretudo na organização de planos para uma nova divisão territorial sob o controle do imperialismo.

Em agosto de 1995, a OTAN interveio diretamente no conflito, bombardeando as forças servo-bósnias que cercavam Sarajevo. Então os milicianos começaram a retirada, também por pressão das Nações Unidas. Finalmente, os Acordos de Dayton, que começaram nos EUA com todas as partes envolvidas, foram assinados em dezembro de 1995 em Paris, iniciando a retirada militar sérvia da Bósnia.

Entretanto, houve também "apoio encoberto pelo aparelho militar e de inteligência dos EUA" a organizações terroristas islâmicas na Bósnia, de acordo com  Michel Chossudovsky. Um  relatório de 1997 do Comitê do Partido Republicano do Congresso dos EUA revelou a colaboração entre militares estadunidenses e terroristas na ocasião.

Já em março de 1991, durante a separação da Croácia, o ministro da Defesa da Iugoslávia, general Veljko Kadijevic, havia denunciado que potências estrangeiras estavam por trás da desintegração do país: "Um insidioso plano tem sido elaborado para destruir a Iugoslávia. A primeira etapa é a guerra civil. A segunda é a intervenção estrangeira. Então regimes fantoches serão instalados por toda a Iugoslávia." Uma premonição que se concretizou. Não era muito difícil de prever tal desfecho...

"De fato, durante a guerra na Bósnia inspectores de armamento americanos estavam trabalhando com operativos da Al Qaeda, trazendo grandes quantidades de armas para o Exército Muçulmano Bósnio",  lembra Chossudovsky, acrescentando que também houve ligações entre unidades militares de inteligência dos EUA e a Al Qaeda no Kosovo (1998-99) e na Macedônia (2001).

Mike Springmann, um dos ex-chefes da CIA, revelou no início de 2016 à  Sputnik que combatentes treinados pelos EUA atuaram na Iugoslávia. Robert Baer, ex-agente da CIA que trabalhou na Iugoslávia entre 1991 e 1994, também fez fortes revelações à mídia bósnia. Segundo declarou ao site  Web Tribune, em janeiro de 1991 ele desembarcou na Bósnia junto com outros três agentes: "Nossa tarefa era dirigir a atenção e espalhar o pânico entre os políticos na Bósnia, nós enchemos suas mentes com os ataques sérvios [de um suposto grupo radical, que na verdade nunca existiu]". Logo depois, Baer foi para a Eslovênia, após este país ter declarado independência da Iugoslávia.

"Nós demos dinheiro, alguns milhões de dólares, para financiar várias ONGs, partidos de oposição e vários políticos que inflamaram o ódio", declarou. Ele denunciou que conselheiros e membros do governo da Iugoslávia, além de generais sérvios, jornalistas e formações militares foram pagos pela CIA em esquemas de propaganda para destruir a Iugoslávia. O ex-agente citou os então presidentes Franjo Tudjman, da Croácia e Alija Izetbegovic, da Bósnia, e Stipe Mesic, dirigente croata que mais tarde assumiu a presidência de seu país.

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