21/12/2025 strategic-culture.su  7min 🇸🇹 #299626

 Donald Trump attaque la Bbc en justice pour diffamation : au moins 5 milliards de dollars réclamés

A diferença abismal entre a Bbc «imparcial» e a Rt «propagandista»

Eduardo Vasco

A questão é: qual propaganda está do lado certo da história

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Os propagandistas do imperialismo tentaram, certa vez, refutar Margarita Simonyan quando ela respondeu a um repórter ocidental, que questionou o jornalismo da RT. Ela afirmou que não havia diferença entre o financiamento da RT pelo governo russo e o financiamento da BBC pelo governo britânico.

"Que absurdo ! É óbvio que a BBC recebe fundos públicos para dizer a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade, enquanto Putin paga os funcionários da RT para espalharem mentiras e propaganda pró-Kremlin!", latiram.

A BBC tem um longo histórico de cobertura para atividades de espionagem e propaganda dos interesses do imperialismo britânico. Na verdade, ela foi criada para isso. Mas como, no mundo fantástico inventado pela própria BBC e suas sucursais, o Reino Unido é uma democracia, a imprensa seria absolutamente independente em sua linha editorial e estaria integralmente preocupada com difundir informação séria e imparcial. Já a Rússia, ah, ela não passa de uma autocracia bárbara e toda a sociedade estaria subordinada aos interesses do czar Vladimir Putin. Logo, a RT seria um veículo de pura propaganda a serviço do imperialismo russo, ao contrário da BBC.

No artigo anterior, vimos um exemplo de manipulação de uma das mais atrozes guerras das últimas décadas, justamente por parte da neutra, imparcial e informativa BBC. Agora veremos a abordagem da RT sobre o mesmo tema, também analisando um documentário. Como a RT foi criada apenas em 2005, ela não poderia ter realizado uma cobertura das guerras na Iugoslávia. Mas o filme em questão recupera as histórias daquela guerra.

Produzido em 2010, Sérvia ferida é um documentário televisivo, assim como  A morte da Iugoslávia. Mas sua angulação é diferente: a partir de depoimentos de testemunhas oculares, o documentário procura contar histórias de vida e não explicar detalhadamente a história oficial da guerra.

Abordando os bombardeios da OTAN na Iugoslávia em 1999 a partir do ponto de vista da população sérvia, a película resgata o sofrimento daquele povo e não tem a intenção de parecer imparcial, ao "ouvir os dois lados". Seu discurso é claro e, nesse sentido, transparente: vai contar um lado da história, o lado que não é lembrado pela história oficial da guerra de 1999, o lado das vítimas sérvias.

Além disso, devem também ser ressaltadas as motivações políticas de Sérvia ferida. Como um documentário produzido e veiculado pela RT, os pontos de vista transmitidos acabam por representar as aspirações e pensamentos russos, como um contraponto ao sistema propagandístico do imperialismo, como a BBC, cuja programação atende às necessidades das nações imperialistas.

A narrativa, ao recordar as atrocidades cometidas pelas forças da OTAN na Iugoslávia em 1999, é uma advertência sobre possíveis novas ações como aquela, desta vez contra a própria Rússia. Isso porque a Aliança Atlântica, após o término da Guerra Fria e a incorporação de países do Leste Europeu, começou a instalar bases e realizar exercícios militares próximos às fronteiras com a Rússia e as tensões com as potências ocidentais, especialmente os EUA, são frequentes.

Ao contrário do documentário da BBC, Sérvia ferida não mostra o conflito armado como resultado de ódios étnicos mantidos por culturas atrasadas e sim por condições concretas que pioraram a qualidade de vida das pessoas, o que desencadeou uma crise política em que grupos radicais se aproveitaram para espalhar seus preconceitos e outros, interessados em recursos financeiros que viriam com o domínio de territórios, conseguiram levar adiante seus projetos políticos.

O político sérvio Zoran Andjelkovic declara ao documentário que os EUA não estavam contentes com a Iugoslávia unida e soberana e que para eles é mais conveniente controlar países pequenos. Essa é a mais pura verdade, que a BBC jamais admitiu durante aquelas guerras.

Então passa-se a abordar o conflito no Kosovo, em que é relatado o surgimento do Exército de Libertação do Kosovo e são mostradas imagens de seus milicianos armados marchando, enquanto a voice over descreve que eles atacavam civis da minoria sérvia e a polícia e as imagens mostram vítimas sérvias e carros destruídos. Neste momento, a voice over diz que as autoridades de Belgrado decidiram "cumprir a ordem constitucional" de intervir militarmente no Kosovo. No início dessa sequência, o narrador afirma que "forças estrangeiras ajudaram a equipar o Exército de Libertação do Kosovo" mas não apresenta provas nem indícios e não procura se aprofundar no assunto - embora as afirmações possam perfeitamente ser embasadas em documentação disponível na Internet.

Após essa sequência, o documentário começa a abordar a intervenção da OTAN, como narra a voice over: "Ao ver que a situação não mudaria, a OTAN decidiu intervir no caso." Ao longo da narrativa, não são feitas entrevistas com representantes da Aliança, somente são mostradas partes de discursos da época. Um militar iugoslavo retirado descreve algumas das operações e "conquistas" do exército iugoslavo na defesa do país. Um político também dá seu depoimento sobre suas atividades contra os bombardeios, apesar de ser opositor do então governo de Milosevic.

Os hipócritas que trabalham nos grandes jornais ocidentais dirão: onde está a imparcialidade ? Por que o documentário não ouviu "o outro lado" ? Ora, já estamos fartos de toda a bajulação da OTAN pelos filmes e documentários internacionais. Já estamos fartos de ouvir o lado dos opressores. O que falta é saber a versão dos oprimidos. E a RT sempre se propôs a isso - é exatamente por isso que incomoda tanto os jornalistas "imparciais" do ocidente.

Durante o documentário, uma série de imagens retrata o poderio militar da OTAN e também as destruições nas cidades e povoados. Apresenta o número de mortos e feridos em vários ataques. Os entrevistados relatam seu sofrimento, principalmente psicológico, porque podiam ouvir o barulho dos mísseis passando poucos metros de suas casas e a qualquer momento poderiam ser atingidos. Uma das entrevistadas, Marina Jovanovic, tem a história mais triste: aos 15 anos, deixou Belgrado para fugir dos bombardeios e se refugiou no interior da Iugoslávia. Quando ia a uma igreja com seus amigos, aviões da OTAN dispararam mísseis contra eles. Ela ficou gravemente ferida e uma de suas melhores amigas morreu, junto a quase duas dezenas de pessoas. Quando ela lembra da amiga, seus olhos ficam marejados e a câmera dá um close em seu rosto e também faz um plano detalhe de seus olhos. Na época da guerra, Marina queria ser jornalista, mas depois decidiu ser médica.

Feridos, mortos, explosões, deslocamento de refugiados e pessoas chorando são algumas das imagens mostradas enquanto o documentário relata as consequências dos seguidos bombardeios contra os civis. É denunciado o uso de armas químicas por parte da OTAN, como bombas de fragmentação e urânio empobrecido. Um ex-correspondente da TV sérvia apresenta indícios em vídeo desses crimes. Imagens e depoimentos são mostrados, inclusive o de um médico que, anos depois, ainda estava cuidando das vítimas da OTAN no Kosovo. Os depoimentos finais de três entrevistados são apresentados com imagens em preto e branco, ao falarem quais foram as consequências "cinzentas" dos bombardeios.

São mostradas e relatadas as consequências dos bombardeios destrutivos sobre edifícios civis ainda com as marcas da guerra. Imagens de arquivo dos bombardeios e da destruição são mostradas enquanto a voice over questiona: "O que essas pessoas pagaram com suas vidas e sua saúde ? A OTAN realmente conseguiu realizar seus objetivos (deter a campanha de terror contra os civis no Kosovo, prevenir outras catástrofes e acabar com a instabilidade na região)?" No final do documentário, a voice over questiona, após os eventos terem sido mostrados ao longo do filme: "O tempo passou. Alguém poderia se perguntar se a OTAN conseguiu seus principais objetivos. Por acaso não é uma catástrofe de índole humana o destino de dezenas de milhares de sérvios do Kosovo ? O Kosovo parou de ser um foco de tensão da instabilidade ? Por acaso acabou o terror contra a população civil nessa região?" Enquanto isso, são mostradas imagens de soldados da OTAN, manifestantes sérvios e uma idosa desesperada. "No entanto, há um objetivo alcançado: a unida, forte e independente Iugoslávia deixou de existir", completa o narrador.

A RT assume claramente um lado. A BBC esconde o seu lado. Quem é mais honesta ? E qual lado é o correto ? O imperialismo destruidor de vidas e de nações frágeis, o qual a BBC representa passando-se por "imparcial" ? Ou o lado das vítimas das guerras imperialistas, das vidas perdidas pelos massacres da OTAN, dos que sempre sofreram, por séculos, com a expansão militar do imperialismo?

A RT pode até mesmo ser um órgão de propaganda. Mas quem não espalha propaganda ? A questão é: qual propaganda está do lado certo da história ? A da BBC é que não está. Essa é a verdadeira diferença entre RT e BBC.

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