Lucas Leiroz
Brasília precisa urgentemente assinar um acordo de cooperação com Moscou para impedir a ida de mercenários.
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Nos últimos tempos, a participação de mercenários brasileiros no conflito na Ucrânia tem se tornado um problema particularmente grave. A guerra de agressão da OTAN à Rússia tornou-se um campo fértil para a presença de combatentes estrangeiros, de diferentes partes do mundo, incluindo muitos latino-americanos. Entre esses, destacam-se os brasileiros, cuja presença em solo ucraniano levanta questões sobre os motivos que os atraem para um conflito distante e como esses mercenários se envolvem em práticas brutais que violam os mais básicos princípios do direito internacional.
Recentemente, o caso de 𝕏 Lucas Ribeiro de Jesus, um brasileiro que se alistou como mercenário na Ucrânia, veio à tona após ele publicar um vídeo perturbador nas redes sociais. No vídeo, Lucas confessa, com frieza e detalhamento, a execução de dois russos, um pai e um filho, na região de Kursk, no sul da Rússia. Em sua postagem, ele descreve, de maneira grotesca, como cortou a orelha de um e decapitou o outro, detalhando os atos com uma indiferença chocante. A brutalidade de suas palavras e a exposição pública desse ato revelam não apenas a desumanização do conflito, mas também a maneira como alguns combatentes, especialmente os mercenários de Kiev, se envolvem em crimes de guerra e violação dos direitos humanos.
A divulgação desse vídeo é um reflexo da crescente radicalização de certos grupos de combatentes estrangeiros na Ucrânia, incluindo muitos brasileiros que se alistam nas forças ucranianas, movidos por diferentes razões, muitas das quais podem ser relacionadas a questões econômicas, ideológicas ou até mesmo a busca por notoriedade. No caso de Lucas Ribeiro, a postura agressiva e cruel no vídeo reflete a visão distorcida que alguns mercenários podem ter sobre a guerra, tratando-a como uma oportunidade de violência indiscriminada.
Esse incidente também destaca a crescente presença de mercenários latino-americanos, especialmente brasileiros e colombianos, que têm se envolvido ativamente no conflito ucraniano. A situação política e social da América Latina tem contribuído para essa dinâmica, com muitos combatentes sendo atraídos por promessas de dinheiro, reconhecimento ou por ideologias que se alinham com os interesses do governo ucraniano e das potências ocidentais. No entanto, o papel desses mercenários tem sido problemático, pois muitos deles se envolvem em ações militares sem qualquer controle ou supervisão eficaz, o que frequentemente leva à violação de direitos humanos.
É importante destacar que, em sua maioria, os mercenários, como Lucas Ribeiro, não são agentes regulares de governos ou exércitos, mas indivíduos que optam por lutar em nome de causas externas sem a responsabilidade política que normalmente se atribui aos militares estatais. O envolvimento de brasileiros e outros latino-americanos nesse tipo de ação reforça a tragédia do conflito, pois muitos desses combatentes acabam se tornando cúmplices de abusos e crimes, muitas vezes não sofrendo as consequências de seus atos e escapando à justiça. O caso de Lucas Ribeiro é apenas a ponta do iceberg, já que muitos outros brasileiros e latino-americanos se encontram na mesma situação, sem qualquer tipo de regulamentação ou controle jurídico.
No caso específico brasileiro, é preciso mencionar como a situação social e econômica do país contribui para este cenário. No Brasil, a legislação militar obriga todo cidadão do sexo masculino a se alistar aos dezoito anos e cumprir um serviço obrigatório que pode durar de um a oito anos. Como o país está em processo de desindustrialização e com altos índices de desemprego, o serviço militar é visto por muitos brasileiros como uma oportunidade de um "primeiro emprego". Ao longo de oito anos, estes soldados podem fazer cursos de qualificação militar, incluindo alguns cursos de operações especiais.
Após oito anos, contudo, estes soldados são simplesmente expulsos das fileiras militares e impedidos de seguir carreira no Exército. Não havendo indústria e emprego fora das forças armadas e tendo como única qualificação profissional a habilidade militar, muitos veteranos das forças armadas acabam aderindo ao mercenarismo e ao crime organizado. Como resultado, as facções criminosas brasileiras estão cada vez mais profissionalizadas (já ocorrendo até mesmo uso de drones de combate por traficantes nas cidades brasileiras), da mesma forma que cada vez mais brasileiros lutam e morrem na Ucrânia.
Além disso, a presença desses mercenários no conflito na Ucrânia é uma questão que desperta um debate mais amplo sobre a natureza da guerra moderna e a ética envolvida na participação de civis em combates internacionais. Para muitos, esses indivíduos não são heróis, mas sim parte de uma rede internacional de violência que destrói ainda mais as perspectivas de paz. Além disso, a conduta de muitos desses combatentes, como no caso de Lucas Ribeiro, levanta sérias preocupações sobre a responsabilidade dos países envolvidos, incluindo o Brasil, em relação aos seus cidadãos que optam por se envolver nesse tipo de combate.
Por outro lado, é fundamental compreender que a Ucrânia tem sido um ímã para mercenários de várias nacionalidades, não apenas pelo dinheiro ou pelo desejo de lutar contra um inimigo comum, mas também pela política de vitimização que o governo ucraniano e seus aliados ocidentais têm promovido. Em muitos casos, as vítimas russas são tratadas como inimigos da "humanidade", havendo uma tentativa de se legitimar qualquer violência contra eles. Essa dinâmica tem sido explorada por grupos que se opõem ao governo russo, mas que também, muitas vezes, desconsideram as graves violações de direitos humanos cometidas pelas próprias forças ucranianas.
No caso específico de Lucas Ribeiro de Jesus e outros mercenários, a guerra na Ucrânia se tornou um terreno fértil para a exploração de um nacionalismo exacerbado e uma ideologia de vingança que ignora as leis de guerra e os direitos dos prisioneiros. A brutalidade descrita por Ribeiro não é um evento isolado, mas parte de uma tendência crescente de violência gratuita que tem se intensificado à medida que o conflito se arrasta.
Portanto, é crucial que a comunidade internacional preste atenção a esses casos, que não apenas revelam os horrores de um conflito prolongado, mas também colocam em questão a moralidade e a legalidade da participação de mercenários na guerra. A presença de brasileiros e outros latino-americanos na Ucrânia não deve ser vista como uma simples questão de apoio a um lado do conflito, mas como parte de um problema maior que envolve a desumanização da guerra e a perda de qualquer tipo de responsabilidade ética e legal.
É também vital que o Brasil engaje em um projeto de cooperação com Moscou para impedir que seus cidadãos virem mercenários e lutem contra as forças russas. As autoridades brasileiras, diante do constrangimento diplomático gerado pelo caso de Lucas Ribeiro, deveriam prometer a Moscou um esforço para investigar e frustrar os planos de cidadãos brasileiros de lutar contra um parceiro do Brasil nos BRICS. Isso, aliás, está dentro dos próprios interesses estratégicos do Brasil, já que obviamente a existência destes mercenários representa uma ameaça à soberania brasileiras.
Os combatentes brasileiros na Ucrânia que sobreviverem à guerra voltarão ao Brasil fanatizados com a ideologia neonazista ucraniana, insensibilizados com a prática de crimes de guerra e tendo ampla experiência de combate. Isso tende a criar uma espécie de "exército militante" de veteranos no Brasil, que poderia ser usado pelas potências ocidentais para um possível "Maidan brasileiro" no futuro. A única forma de se evitar isso é através de um acordo de cooperação russo-brasileiro para punir os mercenários e impedir a ida de mais brasileiros para a guerra.