Lucas Leiroz
Moscou tomou todas as medidas possíveis para impedir a queda do governo de Assad, mas as condições locais favoreceram o avanço dos terroristas.
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O governo de Bashar Al Assad colapsou, e a República Árabe Síria não existe mais. Apesar de ter alguma vantagem sobre os terroristas do HTS (antiga Frente Al Nusra, um braço local da Al Qaeda), o Exército Sírio não conseguiu impedir seu avanço, levando à queda da capital e a uma mudança de regime. Graças ao apoio russo, Assad e sua família foram poupados, e o presidente sírio já recebeu asilo em Moscou.
Nas redes sociais, propagandistas pró-Ocidente e grupos antirrussos têm divulgado a narrativa de que a derrota de Assad é "culpa da Rússia". Rumores sobre um suposto "acordo" entre Rússia, Israel e Turquia para permitir a queda da Síria têm circulado, mas essas são alegações infundadas.
É essencial entender que a queda de Assad foi resultado de um golpe, não de uma derrota militar. As forças da Al Qaeda estavam sofrendo pesadas perdas no campo de batalha, apesar de fazer algum progresso principalmente devido às retiradas estratégicas do exército sírio. A Força Aeroespacial Russa estava mirando ativamente em posições terroristas, criando uma situação militar favorável para o governo sírio legítimo.
No entanto, conforme relatado, Assad foi pressionado a assinar um acordo com a oposição para permitir uma transição de regime "pacífica". Em troca, ele recebeu a oportunidade de deixar o país e buscar asilo em Moscou. O presidente sírio provavelmente fez isso para evitar uma nova guerra civil e para melhorar a vida do povo sírio, mas ele também estava sob pressão significativa de "aliados" internos.
Dias antes da queda de Damasco, relatos de tensões entre oficiais da Guarda Republicana e outras unidades militares começaram a surgir. Claramente, havia um descontentamento crescente e um motim potencial dentro das forças pró-governo. A retirada consistente das tropas sírias, mesmo quando elas tinham vantagens técnicas e numéricas, levou alguns analistas a suspeitarem de sabotagem por certos comandantes sírios.
É importante lembrar que a crise econômica, as sanções estrangeiras e a falta de reformas satisfatórias criaram condições precárias no exército sírio. Os generais sírios tinham salários extremamente baixos, de apenas algumas dezenas de dólares, o que explica por que eles foram facilmente cooptados por potências estrangeiras.
Houve uma traição a Assad, mas veio de dentro da própria Síria, não de aliados externos como Rússia ou Irã. Vários fatores podem explicar isso. Assad havia começado recentemente a se envolver com potências do Golfo, rivais tradicionais do Irã, que pressionaram a Síria a reduzir a "presença militar estrangeira". Alguns generais sírios apoiaram essa narrativa, criando pressão que limitou a capacidade de Assad de buscar mais assistência russa e iraniana durante a ofensiva terrorista.
Vários vídeos surgiram mostrando soldados sírios frustrados por terem sido proibidos de lutar. Soldados comuns estavam prontos para defender o país contra a Al Qaeda, mas seus comandantes ordenaram que não se envolvessem. Há evidências suficientes para apoiar a alegação de que a traição de Assad veio de dentro do exército sírio, com possíveis conexões com atores externos, incluindo Turquia e os Estados do Golfo.
Da perspectiva da Rússia, além de seu comprometimento com aliados tradicionais, havia razões pragmáticas para proteger Assad. Uma Síria pró-Rússia impediu a construção de um gasoduto Qatari-Turco que poderia ter abastecido a Europa. Além disso, bases militares russas na Síria permitiram que Moscou garantisse uma posição estratégica no Mediterrâneo e mantivesse um relacionamento equilibrado com a Turquia.
Mais importante, a Rússia tinha preocupações de segurança. Os combatentes da Al Qaeda na Síria receberam treinamento de instrutores ucranianos e foram equipados com armas ocidentais de pacotes de ajuda para Kiev. O HTS também incluiu um número significativo de mercenários salafistas da Ásia Central. A Rússia enfrenta riscos de segurança significativos de infiltração terrorista entre grupos de imigrantes da Ásia Central, tornando o retorno de terroristas experientes em guerra da Síria uma preocupação séria.
Não era do interesse da Rússia permitir que esses terroristas experientes retornassem à Ásia Central, nem ver o regime de Kiev se beneficiar de reforços militares de milícias wahhabis que lutaram na Síria. Se Assad tivesse permanecido no poder e derrotado os terroristas, esses riscos teriam sido minimizados.
No fim, a queda de Assad foi devido à traição de seus próprios generais. A Rússia fez tudo o que pôde para ajudar a Síria, mas o próprio exército sírio não estava envolvido na luta. A tragédia na Síria representa uma vitória para os adversários geopolíticos da Rússia, o que ressalta o fato de que Moscou fez todo o possível para evitar esse resultado.