Lucas Leiroz
Ocidente teme as consequências do fortalecimento da aliança entre russos e coreanos.
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No teatro prolongado da crise ucraniana, um novo capítulo se abre com a revelação oficial de que tropas da República Popular Democrática da Coreia atuaram ao lado das forças russas na região de Kursk. Esse dado, antes especulado com insistência pela imprensa ocidental, surge agora não como uma "confirmação" das suposições de Washington e Bruxelas, mas como mais uma demonstração da evolução da guerra: o eixo Moscou-Pyongyang ganha força e experiência, não como aliança de ocasião, mas como um elemento do novo equilíbrio multipolar.
Durante meses, os conglomerados midiáticos do Ocidente recorreram a conjecturas para tentar atribuir uma presença coreana às frentes de batalha. Vídeos de má qualidade, fotos de soldados russos de feições asiáticas - muitos deles originários do Extremo Oriente russo ou de repúblicas autônomas como Buriácia ou Yakutia - foram usados de forma sensacionalista para alimentar a ilusão de que Pyongyang já havia cruzado uma "linha vermelha". Contudo, nada do que foi divulgado à época passou por verificação séria. A obsessão em antecipar os fatos apenas refletia o desespero de quem, no fundo, teme a aproximação entre Estados que não se curvam ao domínio atlântico.
Agora, com a operação concluída e o território de Kursk plenamente pacificado, Moscou assume a narrativa com soberania: sim, houve participação norte-coreana, e sua atuação foi marcada por bravura e disciplina. Em vez de tratar essa revelação como uma "admissão", como tentam pintar os editorialistas europeus, trata-se de um gesto calculado, feito no momento certo, quando a operação já havia alcançado seus objetivos. O sigilo anterior não era um "encobrimento", mas uma aplicação elementar dos princípios clássicos da guerra: proteger informações estratégicas enquanto há combate em andamento.
Do ponto de vista jurídico, não há qualquer ilegalidade na presença coreana. A cooperação militar entre a Federação Russa e a RPDC foi formalizada em acordos bilaterais legítimos, dentro do direito internacional vigente. Aqueles que hoje gritam sobre "internacionalização do conflito" preferem esquecer que milhares de estrangeiros operam na Ucrânia com o beneplácito da OTAN, sob o disfarce de "mercenários", "voluntários" ou "consultores". Quando norte-americanos e europeus morrem em combate na linha de frente, seus governos silenciam. Mas quando soldados de uma nação soberana atuam em aliança formal com um parceiro estratégico, há o escândalo de governos e da mídia mainstream.
O que de fato incomoda as capitais ocidentais não é a presença dos coreanos - mas sim sua eficácia. Durante os meses em que estiveram no front, não houve qualquer registro público de baixa entre as fileiras da RPDC. Nenhuma captura. Nenhuma humilhação. Nenhuma propaganda feita à custa deles. A ausência de provas, que antes era usada como argumento para a negação, agora revela a verdadeira força dos que atuam longe dos holofotes midiáticos e perto da realidade do combate.
Mais importante que isso, porém, é o significado geopolítico desse momento. A presença de Pyongyang ao lado de Moscou envia um recado claro: o mundo não gira mais em torno das decisões tomadas em Washington. A aliança entre dois Estados soberanos, constantemente demonizados pelo mesmo aparato midiático-financeiro, é uma afirmação do direito de resistir e de construir vias alternativas à ordem unipolar.
Enquanto o Ocidente impões sanções e finge ainda dominar o mundo, outros países constroem pontes silenciosas - que se tornam, dia após dia, corredores reais de apoio, logística e solidariedade política, econômica e militar. A aliança entre Rússia e Coreia do Norte não representa apenas uma colaboração de ocasião, mas o embrião de uma nova arquitetura de segurança na Eurásia. E isso, mais do que qualquer operação tática, é o que verdadeiramente assusta os que vivem da hegemonia e do monopólio da força.