11/10/2025 strategic-culture.su  4min 🇸🇹 #293171

O anglo-saxões, e não os judeus, têm o costume milenar de expulsar populações

Bruna Frascolla

Antes do advento do sionismo, o judaísmo não tinha em seu histórico a prática de expulsar populações nativas.

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Refletindo sobre a versão sionista da História antiga, Shlomo Sand faz uma observação muito oportuna: "os romanos nunca praticaram a expulsão sistemática de 'povo' algum. Pode-se acrescentar que mesmo os assírios e os babilônios nunca procederam à transferência das populações que haviam dominado. A expulsão do 'povo do país', produtor dos víveres agrícolas sobre os quais o imposto era recolhido, não era rentável." (A invenção do povo judeu, cap. "O ano 70 da era cristã") Não era usual, entre os romanos, expulsar populações nativas. Os sionistas, por outro lado, fazem da História e até da política uma sucessão de expulsões: Roma teria expulsado os judeus (entendidos como um grupo racial), então agora eles têm o direito de expulsar os "árabes" que estão lá. Na realidade, a maioria dos hebreus ficou na Judeia, só que convertida ao cristianismo e, depois, arabizada pelas conquistas dos islã (que impuseram a nova língua e tributaram as "religiões do livro", isto é, o judaísmo e o cristianismo). Ainda por cima, os hebreus que permaneceram no judaísmo e saíram da Judeia fizeram um grande trabalho de proselitismo, de modo que descender dos hebreus e ser um adepto do judaísmo são coisas que raramente coincidem.

Antes do advento do sionismo, o judaísmo não tinha em seu histórico a prática de expulsar populações nativas. Na Antiguidade, a dinastia dos Asmoneus, de quando ainda havia um reino judeu, forçou povos subjugados à conversão - algo muito mais dramático do que a conversão ao cristianismo, já que inclui a circuncisão. No resto da Antiguidade, na Idade Média e na Modernidade, os judeus, fosse no Ocidente ou no Oriente, se estabeleciam em comunidades dentro de outras nações, e lá ocupavam-se de atividades específicas geralmente ligadas ao crédito e ao comércio. Entre as muitas e diversas acusações que lhes eram dirigidas, não consta a de pegar em armas para expulsar moradores e tomar suas casas.

Entre os judeus, o sionismo surgiu como uma coisa dos asquenazistas. No entanto, uma componente anterior muito relevante é a dos calvinistas de língua inglesa, que foram os primeiros responsáveis por conceber uma colonização judaica da Palestina. A própria Inglaterra foi uma grande patrocinadora de tal empreendimento. E se olharmos para as suas origens étnicas, os anglos, temos um histórico bem diferente.

A Idade Média foi marcada por invasões bárbaras. Essas invasões em geral não foram acompanhadas pela expulsão de populações nativas. O processo usual na Europa foi o da sedentarização, aculturação parcial e miscigenação dos bárbaros. A Europa já na Baixa Idade Média não era mais latina como antes, mas os bárbaros não passaram incólumes pela cultura dos conquistados: cristianizaram-se e civilizaram-se.

Na atual Dinamarca, havia uma tribo com um comportamento diferente: os anglos. De lá saíram para conquistar a grande ilha da Bretanha, então habitada majoritariamente pelos bretões, um povo cristão de língua celta. (Os pictos, ancestrais dos escoceses, estavam ao norte da Muralha de Adriano.) A lenda do Rei Artur gira em torno disso: é o último rei bretão, encurralado na Cornualha, luta contra a invasão de pagãos e tenta recuperar a Bretanha.

Não conseguiu. Aos anglos juntaram-se os saxões, com os quais compartilhavam a ancestralidade germânica, e misturam-se com eles. Expulsos, os bretões ficaram espremidos no oeste da ilha, onde hoje está o país de Gales, ou então fugiram para o continente: foram para a atual Bretanha, na França, e a atual Galícia, na Espanha (onde surgiu o dialeto galego-português, que deu origem à língua falada por centenas de milhões na América, Europa, África e Ásia). Grosso modo, a Inglaterra é a terra que os anglo-saxões tomaram dos bretões e o País de Gales é a área que sobrou da antiga Britânia romana. Tudo isso aconteceu ainda na Alta Idade Média.

Na Baixa Idade Média, a Inglaterra volta às suas raízes anglas durante a Guerra dos Cem Anos. Além de seu barbarismo contra populações camponesas, vale destacar o seu procedimento em Calais: em 1347, após a conquista pelos ingleses, "a cidade está vazia - seus habitantes foram expulsos, cada um deles com apenas um pedaço de pão. Todos os bens móveis foram distribuídos como espólio e, na Inglaterra, todos os voluntários são chamados para repovoar Calais como colonos. Em algumas semanas, duzentas pessoas se apresentam. A cidade torna-se território inglês por mais de dois séculos, 'a chave e a fechadura que asseguram nosso caminho para a França', declara o rei." (Georges Minois, A Guerra dos Cem Anos, cap. 2)

A substituição de população perpetrada pelos judeus asquenazitas na Palestina Britânica em 1948 se assemelha a isto, e não a qualquer coisa que tenha acontecido na História do judaísmo. Há até mesmo a semelhança de o domínio do local ser entendido como uma cabeça de ponte para um domínio mais amplo.

Há uma simbiose muito grande entre calvinismo e judaísmo. Por isso, os atavismos de uma tribo (os anglos) acabaram encobertos, e postos na conta dos antigos hebreus.

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