
José Goulão
Eis o estado a que chegou o comportamento da União Europeia, farol da democracia liberal e da "nossa civilização"
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Roubar os activos russos congelados em território europeu ou extorquir ainda mais dinheiro aos contribuintes dos Estados Membros, eis o dilema que aflige a União Europeia neste último trimestre de 2025.
Ao contrário do que poderia parecer a quem ainda acredita nos discursos, documentos e propaganda da UE, não são os escrúpulos que tolhem os dirigentes dos Estados-membros, mas sim os riscos que qualquer das hipóteses acarreta, e que alguns "desalinhados" não estão para partilhar. A organização não é propriamente virgem em roubar outros Estados e em extorquir bens aos próprios cidadãos, mas, desta feita, se as coisas não correrem bem haverá perdas, danos e novos amuos e dissidências entre os governos - quiçá deitando mais achas para a fogueira em que arderá uma entidade que mente e falta ao respeito aos seus povos.
O mais relevante busílis da questão é, de novo, a angariação de meios para continuar a dar de mamar ao regime de Kiev e ao energúmeno Zelensky. Bruxelas continua a tentar convencer-nos de que temos de abdicar até ao último cêntimo, no limite até ao último soldado, para impedir que os russos venham tomar conta das Berlengas, dos Farilhões e da ilha do Pessegueiro*, uma verdadeira obsessão no Kremlin. Parece que Moscovo não pensa noutra coisa e então os 27 têm mesmo de transformar o território ainda controlado pelos nazis de Kiev num "porco espinho de aço", como se ouve dizer a governantes de países da União e a muitos eurocratas.
O que está em discussão é a maneira de arranjar 140 mil milhões de euros para financiar o regime de Zelensky, antes que este fique sem dinheiro, o que se prevê possa acontecer em Março próximo. Como se sabe, Donald Trump não é o mãos largas que foram os seus antecessores desde Obama - ele próprio no primeiro mandato -, pelo que compete à União Europeia arcar com o frete.
Mais um frete, como sabemos. Neste momento Bruxelas procura os tais 140 mil milhões para financiar Kiev, a que se somam os 100 mil milhões necessários para comprar armas aos Estados Unidos e enviá-las para a Ucrânia Ocidental e também os 800 mil milhões calculados para modernizar o "sistema de defesa" (leia-se o aparelho de guerra) dos Estados membros para meter medo a Putin, o terrível.
Contas feitas, a União Europeia anda à procura de mais de um bilião de euros a sério (mil vezes mais volumoso que o bilião usado nas contas anglo-saxónicas) directa ou indirectamente relacionado com a guerra na Ucrânia. Neste sufoco financeiro, que faz inveja ao mais refinado masoquista, a União está ainda envolvida na emissão de 800 mil milhões de eurobonds para mutualizar, à escala dos 27, o investimento considerado necessário à recuperação do estado miserável em que se encontra a sua economia. Uma situação que é, por sinal, uma consequência da política seguida pela União Europeia e que reduziu o aparelho produtivo da zona a um anão manietado perante o resto do mundo.
Extorquir é difícil, roubar é arriscado
Na reunião do Conselho Europeu realizada na segunda quinzena de Outubro, os 27 decidiram não decidir sobre a metodologia a estabelecer para juntar os 140 mil milhões de dólares destinados a alimentar Zelensky e "reparar" o seu território em ruínas.
A alternativa que mais tempo ocupou a Van der Leyen, Costa e aos chefes dos governos dos 27 foi a do roubo. Isto é, levantar os 140 mil milhões de activos russos congelados na Bélgica e enviá-los para Kiev.
Na generalidade, a maioria dos presentes defenderam esta possibilidade, mas Bart De Wewer, o direitista flamengo que chefia o governo de Bruxelas, não esteve pelos ajustes. O dinheiro está sob a tutela de uma entidade denominada Euroclear, sediada em Bruxelas, e o primeiro-ministro belga considera que a União subestima os aspectos legais envolvidos no "movimento" desses activos sequestrados, pelo que os riscos devem ser partilhados pelos 27 no caso de haver uma decisão impondo a devolução do dinheiro a Moscovo. Além de De Wewer ter todo o direito a precaver-se para não ter de assumir a totalidade dos eventuais encargos, os 27 rapidamente perderam alguns membros nesse processo, que exige aprovação por unanimidade. Isto é, ou a Bélgica assume isoladamente as consequências do roubo, ou não haverá envio de dinheiro para Zelensky através deste método. A Hungria, a Eslováquia e, muito provavelmente, a República Checa entendem não assumir a responsabilidade de continuar a guerra na Ucrânia e muito menos a necessidade de extorquir dinheiro aos cidadãos no caso de o vício cleptómano da maioria dos seus colegas de Conselho Europeu ter consequências nocivas.
Como já se disse, o Conselho decidiu não decidir sobre a matéria, empurrando o assunto para a reunião do fim de Dezembro. Até lá, os mais ardentes defensores do roubo esperam que as enormes pressões que vão exercer (chantagem talvez seja a palavra mais adequada) sobre De Wewer e o seu governo sejam bem sucedidas e a Bélgica assuma sozinha os riscos de enviar para terceiros o dinheiro que não lhe pertence - e à revelia dos legítimos proprietários.
Nada de novo, afinal, nas práticas da União Europeia.
Com o seu toque de desespero foi colocada na mesa uma outra alternativa para financiar o nazismo de Zelensky: emitir eurobonds, ou seja um empréstimo partilhado por todos os governos da União para tentar tapar o irreparável buraco orçamental do regime de Kiev. Ou seja, os nossos governos viriam mais uma vez aos nossos bolsos para sustentar a guerra, a ditadura e a destruição no território ocidental da entidade ainda chamada Ucrânia.
Para começo de conversa, houve logo quem considerasse essa hipótese "tóxica".
Nos bastidores do Conselho, funcionários anónimos citados pelo "Político" garantiram que países "frugais" como, por exemplo, a Alemanha e a Holanda, não querem nem ouvir falar em emissão de eurobonds "nos próximos dez anos". A unanimidade exigida ficou, desde logo, comprometida, pelo que nem será necessário esperar pelas previsíveis negativas da Hungria e da Eslováquia, pelo menos.
Por outro lado, países "esbanjadores" como a França, a Itália, e certamente Portugal (onde o respeito pelos cidadãos está abaixo de zero) não têm condições para corresponder à partilha de obrigações, porque excessivamente endividados já eles estão. Além disso, numerosos outros governos desconfiam de mais empréstimos mutualizados porque a "disciplina financeira" na União é uma rematada indisciplina - logo, não haveria garantias de que muitos governos cumprissem as suas obrigações na amortização de uma dívida da ordem dos 150 mil milhões de euros.
Além de tóxico, houve funcionários que qualificaram este acto de extorsão contra os cidadãos como "ridículo", tal a impossibilidade de se consumar.
Os mais persistentes membros do Conselho levantaram ainda uma outra possibilidade: a de mobilizar os activos russos sequestrados em outros países que não a Bélgica. Segundo o "Político", o seu valor não vai além de 25 mil milhões de euros, implicando uma desesperada baixa de expectativas em relação aos 140 mil milhões congelados em Bruxelas. Além disso, nada garantiria que os chefes dos governos dos países onde jazem esses activos se comportassem de maneira diferente da Bélgica e assumissem por conta própria os riscos de o roubo ser revertido.
Avaliada a situação, parece que a via mais plausível para tentar corresponder às pulsões ditatoriais e destruidoras de Zelensky é a aposta nas diligências para "vergar De Wewer", como se diz nos corredores do poder da União. Por um lado, em Bruxelas considera-se certo que a Rússia não terminará a guerra unilateralmente, condição para que os activos de Moscovo fossem descongelados. Por outro, muitos dirigentes e eurocratas temem que a Rússia responda a um eventual roubo dos seus bens com o envio de um exército de experimentados advogados capazes de fazer a vida negra aos cleptómanos e forçá-los a indemnizar Moscovo num total idêntico aos valores de que se apropriaram ilegalmente, acrescidos de juros bem pesados, sem contar com as custas dos processos. Tanto mais que Moscovo tem com a União um tratado de investimento mútuo desde 1989 e cuja existência pode tornar o processo ainda mais complexo e desfavorável a Bruxelas.
Era também a isto que aludia o primeiro-ministro belga quando alertou os seus parceiros de Conselho para o facto de estarem a subestimar os riscos e as possíveis consequências do assalto aos bens de uma outra nação.
Roubo ou extorsão dos contribuintes? Eis o estado a que chegou o comportamento da União Europeia, farol da democracia liberal e da "nossa civilização", na sua cegueira para financiar uma guerra perdida e sustentar um decrépito regime filonazi.
* Pequenas ilhas ao largo da costa ocidental portuguesa